terça-feira, 6 de março de 2018

Godzilla; o filme original de 1954

O Rei dos Monstros em seu primeiro longa metragem

Em março de 2018, o filme Círculo de Fogo: A Revolta estará em cartaz nos cinemas em todo o mundo. Seguido das sequencias da franquia MonsterVerse em 2019 e 2020 com a volta de Godzilla e King Kong às telonas. Para aproveitar a ocasião, o Blog Daileon estreia uma série de resenhas sobre os históricos filmes kaiju. E nada melhor do que iniciar falando sobre o primeiro e venerável longa do primeiro monstro gigante da Toho. Acompanhe:

A era dos monstros gigantes - ou também conhecidos como kaijus - foi uma época clássica para a história do tokusatsu. Aliás, esta época foi essencial para a formação deste gênero que tanto gostamos e que continua atravessando gerações. Muita coisa mudou de 1954 pra cá. Especialmente se tratando de efeitos especiais. A narrativa destas produções também se transformaram com o tempo.

Desde 2013 podemos ver a evidência de uma nova era de filmes kaiju em Hollywood como Círculo de Fogo, filme dirigido por Guillermo del Toro. A sequencia será lançada logo mais em 22 de março. Godzilla ganhou mais uma chance no cinema mundial após a fracassada versão de 1998, pela dupla Roland Emmerich e Dean Delvin (os mesmos de Independence Day). Em 2014 o gigante celebrou 60 anos do seu filme original e conquistou o público com o excelente filme que inaugurou a franquia MonsterVerse, da Legendary Entertainment. O segundo filme foi Kong: A Ilha da Caveira, de 2017. Em 2019 e em 2020 chegam os aguardados Godzilla: O Rei dos Monstros e Godzilla vs. Kong, respectivamente. Existem outros filmes com referências kaiju no cinema norte-americano como Cloverfield (2008), Colossal (2017), entre outros que ainda estão previstos para o futuro próximo.

Mais do que tudo isso, Godzilla é o que eu chamo de "pedra fundamental do tokusatsu". Nada disso existiria se não fosse a parceria formada entre o produtor Tomoyuki Tanaka, o diretor Ishiro Honda e o diretor de efeitos especiais Eiji Tsuburaya (também criador de Ultraman). Foi um marco histórico para o estúdio Toho que no mesmo ano de 1954 lançou o clássico Os Sete Samurais, dirigido por Akira Kurosawa (de quem, curiosamente, contou com a amizade e colaboração de Honda ao longo da carreira). O tema principal criado pelo compositor Akira Ifukube também é outro destaque a se mencionar. Um verdadeiro hino da franquia.

A inspiração surgiu pela influência do filme norte-americano O Monstro do Mar (The Beast from 20,000 Fathoms), produzido pela Warner em 1953. Ano anterior ao Godzilla. O clássico contou com os efeitos especiais do mestre Ray Harryhausen que utilizava stop-motion. Algo espetacular naquele tempo. A ideia de Tanaka era associar o monstro com os riscos nucleares. Afim de mostrar como o homem poderia sobreviver ao próprio mal criado pelo uso de energia atômica através de atividades militares. Sem grandes recursos de produção, a saída foi contratar um dublê para vestir um traje de borracha e interpretar um monstro que devastava Tóquio -- representado em maquetes. Este dublê era Haruo Nakajima (falecido em agosto de 2017 e homenageado no Oscar 2018).

Para entender melhor o que está acontecendo no cinema, é preciso visitar o primeiro filme e entender o contexto da época, onde o Japão se recuparava dos efeitos da bomba que atingiu as cidades de Hiroshima e Nagasaki, durante a Segunda Guerra Mundial. Godzilla surgiu com a finalidade de contar sobre os perigos da radioatividade. Assim nascia um clássico da ficção científica.


O casal Emiko e Ogata
O filme começa com a destruição do navio cargueiro Eiko-maru nos arredores da Ilha Odo. Após o incidente, vários navios e barcos de pesca também são atacados. As suspeitas levam a crer que uma lendária criatura do mar despertou. Algo como um ser pre-histórico. O paleontólogo Dr. Kyohei Yamane investiga o caso e descobre que a criatura gigante emite radiação e presume que ela acordou por causa de testes com bomba de hidrogênio.

Enquanto isso, a filha do Dr. Yamane, a bela Emiko, rompe seu relacionamento com o Dr. Daisuke Serizawa, médico recluso que trabalhou como assistente de seu pai. A garota decide namorar Hideto Ogata, capitão do navio de salvamento. Serizawa desenvolve em segredo um projeto que pode deter o monstro gigante. Porém o mesmo pode causar a destruição da humanidade se cair em mãos erradas.

Godzilla consagrou a carreira daqueles jovens atores que formaram o "triângulo amoroso" da trama. Akira Takarada, o ator que viveu Hideto Ogata, se tornou popular devido a este trabalho. Participou de alguns filmes da franquia interpretando outros personagens, além de uma ponta no filme americano de 2014. Atualmente é dublador de filmes e animações e em 2016 participou de um evento estadunidense de cultura pop G-FEST junto com Bin Furuya (o dublê do Ultraman original) e Hiroko Sakurai (A Akiko de Ultraman).

A atriz Momoko Koichi, que interpretou Emiko Yamane, participou de um outro filme kaiju conhecido no ocidente como Os Bárbaros Invadem a Terra (The Mysterians). Filme dirigido por Ishiro Honda em 1957. Koichi reprisou o papel de Emiko Yamane em 1995 no filme Godzilla vs. Destroyer. A atriz morreu em 5 de novembro de 1998 aos 66 anos, vítima de um câncer colorretal.


Daisuke Serizawa, o papel mais famoso da carreira do saudoso Akihiko Hirata

Akihiko Hirata (nascido como Akihiko Onoda) foi o Dr. Daisuke Serizawa. Um importantíssimo personagem neste primeiro filme que tem relação com Godzilla vs. Destroyer e serviu de inspiração para o personagem de Ken Watanabe na versão hollywoodiana de 2014, o cientista Ishiro Serizawa. Originalmente, Hirata estava escalado para interpretar Ogata, mas acabou ficando com o papel do cientista que lhe rendeu grande notoriedade em sua carreira no cinema japonês. Além de filmes da franquia Godzilla e de outros filmes kaiju nas décadas de 1960 e 1970, Hirata pode ser visto nas séries tokusatsu Ultra Q, Ultraman, Ultra Seven e Daitstsujin 17. Iria participar do filme The Return of Godzilla, em 1984. Porém estava muito debilitado por causa de um câncer no pulmão. Faleceu aos 56 anos em 25 de julho de 1984. Deixou um legado para a história dos filmes kaiju e de seus fãs.

E aqui também vale a menção do ator Takashi Shimura, que foi o Dr. Kyohei Yamane neste filme e na sequência Godzilla Raids Again, de 1955. Meses antes da estreia de Godzilla, mais precisamente em abril de 1954, Shimura pôde ser visto em Os Sete Samurais como Kambei Shimada. Chegou a participar de vários filmes kaiju da Toho e mais alguns filmes de Kurosawa como O Anjo Embriagado (de 1948), Rashomon (de 1950) e Viver (de 1952). Participou dos filmes tokusatsu Os Bárbaros Invadem a Terra, Mothra, a Deusa Selvagem (1961), Gorath (1962), Ghidrah, O Monstro Tricéfalo (1964), Frankeinstein Contra o Mundo (1965) e Catástrofe - Profecias de Nostradamus (1974). Morreu em aos 76 anos no dia 11 de fevereiro de 1982, vítima de enfisema pulmonar.


Poster japonês de Godzilla, o Rei dos
Monstros. Estrelando: Raymond Burr
Em 27 de abril de 1956, o monstro gigante ganha as telas norte-americanas com o filme Godzilla, O Monstro do Mar (Godzilla, King of the Monsters). É preciso que se diga que esta foi a primeira adaptação de tokusatsu nos EUA. Ou seja, havia uma interação do elenco gringo com os eventos do filme original. A "americanização" ajudou a popularizar o kaiju na terra do Tio Sam e antecedeu o recurso usado na franquia Power Rangers (adaptação das séries Super Sentai no ocidente). O ator principal foi Raymond Burr, que estrelou a famosa séries de TV Perry Mason (ou "Pede Mais Um" como diria Seu Madruga) entre 1957 e 1966. Ele viveu o jornalista Steve Martin (não confunda com o ator de comédia) que foi ao Japão para cobrir uma matéria sobre o Godzilla. Martin tanto interagia com os personagens da trama original quanto servia como narrador-personagem. O mesmo foi reprisado por Raymond Burr quase trinta anos depois no filme Godzilla 1985. Uma reedição de The Return of Godzilla, do ano anterior.

Nos anos 50, o filme Godzilla, O Monstro do Mar foi exibido nos cinemas brasileiros. Em junho de 2015, Godzilla, Godzilla, O Monstro do Mar e O Monstro do Mar foram lançados no formato DVD-box pela distribuidora independente Obras-Primas do Cinema e de forma oficial, segundo consta em nota do Blog do Jotacê. A coleção foi batizada como Godzilla - Origens e provavelmente já tenha se tornado um item raro para colecionadores e figurando entre os poucos lançamentos recentes de tokusatsu em home-video em nosso país. Logo a adaptação Godzilla, O Monstro do Mar foi rebatizado como Godzilla - O Rei dos Monstros, seguindo a tradução direta do título em inglês. A coleção contém extras com entrevistas e documentários que abordam desde a concepção do filme até o legado deixado para cultura pop.

Assista o trailer do primeiro filme de Godzilla e de sua adaptação americana:



 

Confira também o teaser do box nacional Godzilla - Origens, pela distribuidora Obras Primas do Cinema:

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