sábado, 26 de agosto de 2017

Novo Death Note é fraquíssimo e perde um elemento essencial

Ryuk, de Willem Dafoe, foi um dos poucos acertos do filme

Finalmente o tão comentado e temido filme norte-americano de Death Note já está entre nós. No ar desde a madrugada desta sexta (25) pela Netflix, a novidade é uma das mais comentadas entre o público que acompanha anime, principalmente por quem já acompanhou a história de Light Yagami e a sua pretensão em se tornar um "deus do novo mundo". Como era de se esperar, tem lá um jeitão americano (óbvio) só que com uma pegada mais teen. Embora o clima sombrio, o filme tenta agradar o público com um adolescente comum e meio distante do protagonista que conhecemos.

Assim é Light Turner (Nat Wolf, conhecido da comédia The Naked Brothers Band, da Nickelodeon): inconsequente, é metido em brigas e até apaixonado por uma garota. Tudo isso sem frieza alguma. Light mora com seu pai, o policial James Turner (Shea Whigham), contraparte de Soichiro Yagami. O primeiro encontro de Light com Ryuk (Willem Dafoe) já faz o espectador pensar que o garoto está mais distante do personagem original a começar com berros exageradamente horrorosos ao ver o demônio em sua frente (a palavra "shinigami" ou "deus da morte" são suprimidos). Com uma lista mais extensa de regras, o Death Note é escrito por Light que acaba compartilhando o caderno com sua grande paixão, Mia Sutton (Margaret Qualley). A garota é uma composição de Misa Amane, Kiyomi Takada e tenta ter a sociopatia de Light Yagami. Por algum motivo, ela sabe sobre a lenda do Death Note e não possui um próprio. O casal não tem a menor química. Por outro lado, James não tem uma equipe de investigadores e se alia ao L (Keith Stanfield) para tentar capturar o assassino conhecido como Kira. O L do filme tem o mesmo estranho jeito de se sentar e comer doces, mas este tem o hábito de esconder o rosto.

Death Note impressiona ao contar as mortes de forma mais sanguinolenta possível através dos efeitos especiais. Até aí é digno de filme de terror. Porém, a trama é cheia de furos e peca demais no desenvolvimento. Light não é tão discreto com o seu caderno da morte e aqui acolá deixava pistas soltas de seus assassinatos. Ele não faz o menor esforço para tentar fazer um crime perfeito e é potencialmente imaturo. Os eventos do filme passam rápido e o desenrolar acaba perdendo algo que é essencial no mangá/anime: o jogo psicológico entre Light e L. A oportunidade foi desperdiçada com uma investigação que sequer amarra o espectador na ponta do sofá. Tantos problemas e falta de interação fazem com que este Death Note seja um filme sonolento.

É impossível contar tudo o que acontece na trama original em apenas 1h40 de película (poderia ter um pouco mais de duas horas). Mas esta adaptação não emplaca com tantos problemas. Este Death Note pode valer como uma amostra para leigos e quem sabe agradar um ou outro que ainda não acompanhou a excelente obra de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata. Mas os fãs de longa data devem sentir falta de elementos principais que poderia ser muito bem explorado e adaptados da melhor forma. Pelo menos Willem Dafoe esteve excelente como Ryuk e captou a essência do personagem. O rosto do antigo Duende Verde (do primeiro filme do Homem-Aranha), aliás, é perfeito para criar o "demônio". O ator Masi Oka, o Hiro Nakamura da série Heroes, é um dos produtores e aparece fazendo uma ponta. A trilha sonora é um dos poucos acertos. Os destaques mesmo vão para os clássicos "Take My Breath Away" da banda Berlin (tema de Top Gun) e "The Power of Love" (You Are My Lady), canção original de Jennifer Rush e na famosa versão interpretada pela dupla Air Supply.

Agora entendemos o porquê da Warner ter rejeitado o projeto do diretor Adam Wingard. A Netflix fez questão de salvá-lo em meio a resistência dos fãs e o fanatismo de outros. O resultado deixa muito a desejar e fica atrás das demais adaptações feitas para cinema e TV. Quem sabe isso melhore numa possível sequencia.

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